Câncer primário de fígado: sua importância, causas e consequências
José Carlos Ferraz da Fonseca

Médico especialista em Doenças do Fígado (Hepatologia)

Imagem revelando câncer primário do fígado ou tumor maligno primário do fígado (setas amarelas). A foto foi obtida na internet através do site educacional pertencente à Universidade de Cornell (http://edcenter.med.cornell.edu), EUA.


O fígado pode ser acometido por um processo cancerígeno através de dois modos. No primeiro, o câncer desenvolve-se no próprio fígado e denomina-se “câncer primário de fígado” ou "carcinoma hepatocelular primário". Quanto ao segundo modo, o aparecimento do câncer no fígado ocorre por metástases (migração por via sangüínea ou linfática de células cancerosas provenientes de uma lesão inicial em outro órgão) e é chamado “câncer secundário de fígado”. Neste artigo, iremos descrever somente o câncer primário de fígado.

O câncer primário de fígado ou tumor maligno primário do fígado é a quinta causa mais comum de câncer no mundo e a terceira causa mais comum de mortalidade por câncer em geral. Globalmente, cerca de 560 mil pessoas desenvolvem câncer de fígado a cada ano e estima-se que um número equivalente a 550 mil indivíduos morra anualmente em conseqüência desse processo cancerígeno.

O desenvolvimento do câncer de fígado primário não tem predileção por raças ou etnias. Todavia, a incidência desse câncer é bem maior no sexo masculino do que a observada no sexo feminino. O homem teria maior probabilidade de desenvolver este tipo de câncer hepático em decorrência dos seguintes fatores: susceptibilidade genética (predisposição a determinadas doenças), maior taxa de infecção pelos vírus das hepatites B e C (vírus sabidamente cancerígenos), consomem mais álcool (agente cancerígeno), fumam mais cigarros (agentes cancerígenos), existe um maior depósito de ferro (substância cancerígena) no fígado, alta massa corporal e elevadas taxas de hormônios andrógenos, principalmente a testosterona.

O câncer primário de fígado é o único tipo de câncer que ocorre largamente no contexto dos fatores de risco conhecidos. Sabe-se, ainda, que o referido processo cancerígeno ocorre em 80% dos casos entre pacientes com doença hepática crônica e cirrose hepática. As maiores causas de cirrose em pacientes com tal tipo de câncer são: infecção crônica pelo vírus da hepatite B (VHB) e C (VHC), doença hepática alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica.

Quais seriam os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer primário de fígado? São vários e os mais importantes seriam:

1) a infecção crônica pelo VHB. É a causa mais freqüente em todo mundo. Observa-se entre portadores crônicos VHB a probabilidade 100 vezes maior de desenvolverem câncer primário de fígado comparado com aqueles não portadores do VHB. Na Amazônia brasileira a infecção pelo VHB é a principal causa deste tipo de câncer;

2) infecção crônica pelo VHC é um outro fator de risco para o desenvolvimento de câncer primário de fígado. No Japão, 80-90% dos casos deste tipo de câncer ocorrem devido à infecção crônica pelo VHC. Pacientes infectados conjuntamente pelos vírus da imunodeficiência (HIV) e pelo VHC teriam um maior risco de desenvolver cirrose e câncer primário de fígado comparados com pacientes portadores somente do HIV;

3) a ingestão de álcool, 50-70 gramas por dia e por mais de cinco anos, é um grande fator de risco para o aparecimento de uma cirrose hepática e, conseqüentemente, câncer primário de fígado;

4) aflatoxinas: toxinas liberadas por um fungo (Aspergillus species) com alto poder cancerígeno ao fígado. Esse fungo encontra-se em sacos contendo farinha de mandioca, milho e amendoim. O desenvolvimento desse fungo deve-se ao mau armazenamento dos sacos, principalmente em ambientes úmidos e de pouca circulação de ar. Verifica-se na China e África a maior incidência de câncer primário de fígado por toxinas liberadas por este tipo de fungo.

Outros fatores de risco menos comuns para doenças hepáticas crônica e câncer de fígado primário seriam: esteato-hepatite não-alcoólica, obesidade, diabetes mellitus, hábito de fumar tabaco entre portadores de cirrose hepática pelo VHB ou VHC e finalmente pelo uso de contraceptivo oral.

Como já se relatou, mais de 80% dos pacientes que apresentam câncer primário de fígado são portadores de cirrose hepática. A piora abrupta de um paciente com cirrose hepática pode ser a primeira manifestação de um tumor primário do fígado associado. Do ponto de vista clínico, podemos observar entre os portadores de câncer primário do fígado o que se segue: febre contínua; a perda de peso é progressiva (até 20 quilos em média de dois meses); os olhos e a pele ficam cada vez mais amarelo-esverdeados; ocorre um aumento do volume abdominal; o fígado aumenta de volume e uma grande maioria dos pacientes queixa-se de dor em peso, ou cansada debaixo da última costela direita (o próprio paciente sente e palpa uma massa dolorosa, no caso o fígado). Se diagnosticado precocemente e o tumor for menor que cinco centímetros, o transplante hepático é o método terapêutico mais indicado.

Finalmente, recomendamos que todo paciente portador de cirrose hepática deve a cada 4-6 meses realizar uma ultra-sonografia abdominal e testar no sangue a alfa-fetoproteína (proteína que aumenta no câncer de fígado).









5 comentários:

Anônimo disse...

O FIGADO É TÃO ESTRANHO. + MUITO IMPORTANTE!

Anônimo disse...

Hamilton.Realmente Doutor.Valeu por sua sabedoria,humildade,em poder auxiliar o próximo.Sem palavras para poder lhe agradecer!!Esta é a mais verdadeira próva de amor aos seus irmãos,e ao Supremo arquitéto do univérso.

Minha Terra disse...

Parabéns!Iniciativa brilhante, conhecimento é realmente para se doar.Me ajudou muito.

Feliz 2011

Anônimo disse...

Parabéns! Suas informaçoes foram de grande ajuda..
Deus te abençoe!

José Pedreira da Cruz disse...

Li atentamente, e só me resta agradecer sua preciosa orientação.
MUITO OBRIGADO